A toxina botulínica, conhecida por diversos nomes comerciais em nosso país, por exemplo, Botox® ou Dysport®, popularizou-se pelo seu uso em estética.
Na neurologia, entretanto, o uso da toxina botulínica também é uma ferramenta essencial para o tratamento de algumas doenças neurológicas, em particular, a distonia, o espasmo hemifacial, a espasticidade e, mais recentemente, a enxaqueca crônica refratária ao tratamento preventivo.
De um modo geral, a toxina botulínica tem a propriedade de bloquear o músculo injetado, por um mecanismo de ação conhecido. E justamente por isto, alguns efeitos colaterais também podem ocorrer. Assim, é possível que uma injeção nas pálpebras leve a fraqueza destes músculos, ocorrendo ptose (abaixamento da pálpebra) e assim por diante. Uma injeção no músculo temporal pode dificultar a mastigação; nas mãos, fraqueza para pegar objetos. Obviamente, existem protocolos para as aplicações em cada situação e o ajuste individualizado das doses visa justamente a minimizar estes efeitos colaterais.
Outra característica do tratamento com toxina botulínica é que, independente dos efeitos terapêuticos, espera-se que a partir de 3 a 4 meses o benefício termine, cessando quase inexoravelmente ao longo de 6 meses. Desta forma, haverá a necessidade de novas aplicações.
A seguir, alguns detalhes sobre o uso clínico da toxina botulínica em neurologia.
Estima-se que pelo menos uma vez na vida todos teremos uma crise de dor de cabeça. E dentre todas as causas de cefaléia, a enxaqueca traz um enorme impacto na vida pessoal, social e profissional dos que sofrem desta condição, em particular, naquelas pessoas que têm enxaqueca crônica.
Para tratar enxaqueca crônica medidas farmacológicas e não-farmacológicas são fundamentais. Existem diversas medicações já disponíveis em nosso país, incluindo desde anti-hipertensivos até antidepressivos e anticonvulsivantes, entre outros. O fato é que mesmo com tudo o que existe disponível alguns enxaquecosos ainda persistem com dor. Nestes casos, a toxina botulínica parece ter um papel importante como terapia preventiva, diminuindo o número e a intensidade de futuras crises, sendo uma opção que deve ser lembrada.
Pode-se dizer que o tratamento com toxina botulínica para as distonias e o espasmo hemifacial foi um marco significativo no manejo dessas patologias.
De uma maneira geral, distonias são movimentos involuntários normalmente associados à co-contração de músculos agonistas e antagonistas levando a posturas anormais de um ou mais segmentos do corpo. Por exemplo, na distonia cervical (“torcicolo espasmódico”) o indivíduo tem um desvio do pescoço para um dos lados associado à contratura muscular mantida, muitas vezes dolorosa. Existem também distonias dos membros, como um dos braços, as pernas, ou mesmo as distonias que envolvem uma das mãos, por exemplo, a chamada cãibra do escrivão ou ainda aquelas que envolvem a musculatura em torno dos olhos, a distonia ocular (blefaroespasmo).
O espasmo hemifacial, por sua vez, caracteriza-se por contrações musculares também involuntárias de uma metade do rosto (hemi-face) em um território muscular que recebe a inervação do nervo facial.
Tanto o tratamento das distonias focais como o espasmo hemifacial têm na toxina botulínica, por exemplo, Botox® ou Dysport®, a sua melhor alternativa para alívio dos sintomas e melhora da qualidade de vida dos pacientes.
A espasticidade se caracteriza pelo aumento do tônus muscular e uma série de condições pode levar a isto como acidentes vasculares cerebrais, traumatismos crânio-encefálicos e raquimedulares, além de doenças desmielinizantes como a esclerose múltipla.
A espasticidade pode ser tratada com medidas não-farmacológicas, por exemplo, fisioterapia, além de medicações via oral como relaxantes musculares (tizanidina e ciclobenzaprina), baclofeno, dantrolene, entre outros.
Em alguns casos, porém, não somente pela incapacidade funcional, mas também pela dor o tratamento não-farmacológico e com medicação via oral é insuficiente. Nestes casos, a toxina botulínica pode ter um papel importante, melhorando a espasticidade, assim como a dor associada a esse aumento do tônus muscular.
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