Quem não conhece alguém ou presenciou consigo mesmo(a) uma situação de desmaio ou quase desmaio? Do ponto de vista neurológico, o desmaio é uma perda completa da consciência, normalmente de caráter transitório. Entretanto, nem sempre estes desmaios estão relacionados com problemas de pressão arterial, como a maioria das pessoas pensa.
Uma das causas de desmaios, por exemplo, pode ser a epilepsia, que se manifesta apenas com perda da consciência associado ou não a “abalos motores”. Entretanto, causas ainda mais comuns de perda da consciência incluem diminuição do açúcar no sangue, queda da pressão arterial e arritmias cardíacas.
Outra causa de desmaio menos comum pode estar relacionada a um problema sério de sono, muitas vezes não diagnosticado, que é a narcolepsia. Neste caso, os “ataques de sono” podem simular desmaios também.
Para os pacientes, é importante observar a situação na qual o desmaio ocorreu. Assim, devemos considerar se foi um desmaio após um período de jejum prolongado, durante o ato de urinar, após um esforço físico, após mudar repentinamente de uma posição (deitado) para outra (de pé), se ocorreu palpitação no tórax ou outro elemento incomum.
Em geral os desmaios são investigados pelo clínico, cardiologista e/ou neurologista e os exames dependerão das causas, podendo incluir testes para o coração (eletrocardiograma, ecocardiograma, teste da mesa inclinada), exames neurológicos (neuroimagem e eletroencefalograma) e rotina laboratorial (glicemia, hemograma, eletrólitos, função renal, hepática e tireoidiana).
Em síntese, os desmaios podem significar muito mais do que uma queda da pressão arterial e envolvem problemas clínicos, cardíacos e, logicamente, neurológicos. A correta investigação e terapêutica, por sua, vez, dependerão de uma criteriosa investigação dessas etiologias.
Muitas pessoas já presenciaram um indivíduo tendo crises epilépticas, mas poucos sabem exatamente o que é epilepsia e como tratá-la. A epilepsia é um problema neurológico comum caracterizado clinicamente pela presença de crises convulsivas de repetição, nas quais o indivíduo pode ou não perder a consciência e se contorcer. Afeta desde recém-nascidos até idosos e tem um amplo diagnóstico diferencial.
A epilepsia manifesta-se pelas crises convulsivas que, de um modo geral, podem ser classificadas em crises parciais simples (não se perde a consciência e o indivíduo tem algum sinal/sintoma neurológico focal e transitório, por exemplo, pequenos abalos musculares da face e membro superior de um lado do corpo), crises parciais complexas (há um comprometimento da consciência e não perda total dela e são frequentes os chamados automatismos motores, em que o indivíduo estala os lábios, pisca os olhos várias vezes, movimenta uma das mãos sem propósito) e as crises generalizadas (nas quais a consciência é perdida transitoriamente e ocorrem contraturas seguidas de abalos musculares em todo corpo).
Para entendermos como uma crise epilptica ocorre, precisamos comparar o cérebro a um verdadeiro circuito elétrico, em harmonia, onde os neurônios (as células do cérebro) se comunicam uns com os outros transmitindo impulsos nervosos, ou literalmente corrente elétrica. Quando esta harmonia é perdida e um grupo de neurônios passa a “disparar” de maneira síncrona, diferente de seus vizinhos, pode haver uma crise convulsiva ou uma descarga epileptiforme.
Em recém-nascidos, problemas que ocorreram na gestação ou no parto, como malformações do sistema nervoso central e doenças metabólicas, são causas frequentes de epilepsias. Em crianças de 5 meses a 5 anos são comuns as chamadas crises febris, que normalmente não persistem após este período, e acontecem porque o aumento da temperatura em um cérebro ainda imaturo pode ser prejudicial. Em adultos, a principal causa de crise convulsiva é a chamada epilepsia do lobo temporal e, em idosos, crises convulsivas de início recente são normalmente secundárias a acidentes vasculares ou tumor.
O tratamento da epilepsia depende, primeiramente, de um diagnóstico correto e, a partir daí, orientações para prevenção de crises e o uso racional de medicações antiepilépticas. O tratamento com medicações leva em conta, principalmente, o tipo de crise, efeitos colaterais das próprias medicações, gravidade das crises e comorbidades que o paciente possa apresentar.
O principal objetivo do tratamento é reduzir o número de crises, preferencialmente, extingui-las por período prolongado. Todas as medicações podem levar a efeitos colaterais que deverão ser discutidos com o médico e monitorados ao longo do tratamento. Os efeitos colaterais dependem da medicação em si e da sensibilidade do paciente. Por isso, há uma variação grande entre pessoas tomando o mesmo remédio. Efeitos colaterais comuns são: tontura, vermelhidão na pele, sonolência, aumento de apetite, queda de cabelo, alterações no fígado, crescimento da gengiva, entre outros. Normalmente os indivíduos com epilepsias mal controladas acabam desenvolvendo uma série de problemas neuropsiquiátricos, em particular, depressão, ansiedade e ideação suicida.
A prevenção primária da epilepsia ainda é difícil, mas um diagnóstico precoce e correto, com tratamento adequado, pode colocar o indivíduo em uma situação livre de crise por vários anos e proporcionar uma melhor qualidade de vida. Finalmente, ainda é preciso desmistificar a epilepsia e o que cerca este problema, disseminar informação correta e, sobretudo, apoiar o portador de epilepsia na sua inserção completa em nossa sociedade civil.
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