O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, também conhecido pela sigla TDAH normalmente é detectado quando a criança está em idade escolar, iniciando o seu aprendizado formal, ou seja, a partir dos 7 anos. Acredita-se que a frequência de TDAH em crianças em idade escolar seja de 5%. Obviamente, existem casos em que este diagnóstico pode ser suspeitado mais precocemente, ainda na fase pré-escolar, embora isto seja mais difícil e passe muitas vezes despercebido. Contudo, não podemos esquecer também dos adultos com TDAH que não foram diagnosticados e tratados na infância e sofrem diariamente com dificuldade para prestar atenção (“memória ruim”), impulsividade e inquietude (“hiperativos”).
Em relação à sua fisiopatologia, o TDAH ocorre por um problema no funcionamento de um circuito que utiliza a dopamina, uma substância produzida no cérebro (neurotransmissor) que tem a função de estimular determinadas áreas, por exemplo, regiões cerebrais relacionadas com a atenção, com a capacidade de resolver problemas, planejamento e estratégia. Esta é a área que mais se desenvolveu no cérebro humano, quando nos comparamos com ancestrais primatas, e se localiza acima dos olhos, atrás do osso frontal, em uma região que conhecemos por córtex pré-frontal.
Os indivíduos com TDAH provavelmente têm uma predisposição genética (ainda não bem conhecida) e quando submetidos a fatores externos desenvolveriam o TDAH. Dentre as influências externas destacam-se tabagismo e etilismo antes e durante a gravidez, baixo peso ao nascer e neuroinfecções após o nascimento.
Sobre os pacientes que desenvolvem TDAH na vida adulta é importante ficar claro que sendo uma patologia do neurodesenvolvimento esta doença deve, obrigatoriamente, iniciar na infância ou, no máximo, adolescência (12 anos). Ainda hoje, de acordo com os critérios diagnósticos do DSM-IV, só é possível fazer o diagnóstico de TDAH se o indivíduo iniciou os sintomas a partir dos 7 anos de idade, independente da idade que tem hoje, seja, 20, 30 ou 40 anos. A nova proposta de diagnóstico do DSM-V, ainda não vigente, deverá constar com o ponto de corte de 12 anos de idade para início dos sintomas.
Nas crianças o TDAH divide-se em 2 subgrupos: desatento e hiperativo/impulsivo. No subgrupo desatenção a criança não presta atenção em sala de aula, tira notas ruins, não aprende, não acompanha as conversas dos colegas, pais e professores, enquanto no subgrupo hiperatividade/impulsividade não espera sua vez, é muito inquieta, não permanece no mesmo lugar, movimenta muito as pernas quando sentada.
No adultos, a maioria absoluta dos casos são apenas do subgrupo desatento. A principal queixa destes adultos quando procuram o médico é, sem dúvidas, quanto à memória. Reclamam que não guardam informações, são rotulados equivocadamente de “preguiçosos”. Além disto, têm dificuldade para organizar seu ambiente de trabalho e vida pessoal, assim como priorizar tarefas mais importantes. Finalmente, podem apresentar dificuldade para resolver problemas corriqueiros como planejar uma viagem de lazer ou organizar uma apresentação de trabalho.
O fato de o TDAH ser menos diagnosticado em adultos tem algumas explicações. Uma delas é educação médica, ou seja, falta de um maior treinamento ou preparo para “entender” que um adulto jovem com queixa de “esquecimento” poderá ter, entre diferentes diagnósticos diferenciais, TDAH. Além disto, a própria população acredita que TDAH só existe na infância e não percebe que este diagnóstico poderia ser feito, pela primeira vez, na idade adulta. Entretanto é preciso ter cuidado porque nem toda pessoa “agitada” ou “desatenta” necessariamente tem TDAH. Aliás, esta pessoa pode não ter problema algum.
Quando se faz o diagnóstico em adultos de TDAH é preciso se certificar de uma série de elementos que apenas um médico poderá elucidar. Por exemplo, doenças associadas como problemas na tireoide, depressão, ansiedade, transtornos do sono, autismo, encefalopatias crônicas não evolutivas, uso de drogas ilícitas ou lícitas, outros transtornos do neurodesenvolvimento, além de alterações que podem existir em exames de sangue, urina, imagem e neurofisiologia. Finalmente, é preciso entender que o problema referido (desatenção e agitação) precisa ser persistente e interferir de maneira significativa com a vida pessoal/profissional, não se justificando por outras condições. Algumas escalas de auto-avaliação em adultos podem auxiliar na triagem. Recomendo, neste caso, uma visita ao site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) no endereço eletrônico www.tdah.org.br.
Vale também lembrar que existe uma associação muito comum entre TDAH e outras doenças neuropsiquiátricas. Entre elas, depressão e ansiedade, transtornos do sono e abuso de drogas lícitas e ilícitas. Transtornos de linguagem e aprendizado como a dislexia podem comprometer até 1/3 das crianças com TDAH, assim como problemas de sono, muito frequentes nesta população.
Basicamente existem 2 linhas de tratamento, que são complementares. A primeira linha envolve uma abordagem psicológica e psicopedagógica e a segunda envolve tratamento com remédios, normalmente estimulantes do sistema nervoso central. As medicações usadas para o tratamento do TDAH devem ser avaliadas pelo médico que as prescreve. Existem diversos efeitos adversos conhecidos e que devem ser discutidos previamente. Dentre os mais comuns: irritabilidade, insônia, tremores, crises convulsivas. A posologia (forma de administração) e dose será tratada individualmente, conforme cada caso.
O TDAH leva a sérios problemas não somente do ponto de vista cognitivo, com desempenho escolar ruim, mas também nas relações sociais e na vida afetiva da criança ou adulto acometido. Como o tratamento, farmacológico e não-farmacológico, tem um impacto significativo na qualidade de vida destes pacientes, vejo que o passo principal é suspeitar do diagnóstico e referenciar o quanto antes a um médico que possa avaliar o caso e fazer as orientações cabíveis. Os pacientes tratados com êxito têm condição de exercer plenamente suas capacidades psicomotoras.
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